sábado, 16 de janeiro de 2010

Despedida em Las Vegas


DESPEDIDA EM LAS VEGAS(Leaving Las Vegas, de Mike Figgis, EUA, 1995)
por Tarcito Lear
Tem coisa mais romântica do que Romeo & Julieta moderninhos?

Depois de eu fazer viagens literárias pelas esquisitices realistas dos mais loucos escritores que o manicômbio do mundo já viu, pude encontrar um dos filmes românticos mais excelentes que já assisti. Um filme que fez lembrar os mendigos traídos e apaixonados de Bukowski, os maníacos sexuais esquisofrênicos do Burroughs, os hippies dopadões do Jack kerouac e dos perdidos-na-vida de Henry Miller. É um filme que foge da regra que filme romântico tem que ser meloso e cheio de imaginação fictícia. É um realismo que dói em ser mostrado de tão real, com uma estética não muito convencional dos dramas de amor em que mostra a amargura, o vício e o amor de um homem que já não consegue largar as diversões etílicas as quais deixa qualquer bêbado zonzo em tempos de lei seca.
"Eu não me lembro se comecei a beber porque minha mulher me largou ou se minha mulher me largou porque comecei a beber."
Diz Ben. É uma frasezinha típica de cachaceiros cornões sentimentais que parece só querer um pouco de afeto nesta vida.
Ben, vivido por Nicolas Cage, é um alcólatra suicida à beira de um declínio em todos os sentidos. Após ser demitido de seu emprego numa empresa de cinemas por causa de sua bebedeira compulsiva, Ben resolve morrer em Las Vegas fazendo o que mais gosta na vida - beber. Beber até morrer, literalmente. Ben vende tudo que ainda lhe resta e se muda para uma estadia em Las Vegas até que a bebida possa lhe consumir e até ser levado junto à morte. É borbulhante de uma dramacidade transbordante de veracidade inclinado à um realismo nu e cru que dispensa qualquer idealismo amoroso.
Elizabeth Shue faz o papel de uma prostituta que vive em Las Vegas e que conhecerá Ben e se apaixonará repentinamente. O que chama atenção é como o amor atrai um ao outro - graças ao estado psicologicamente abalado - de ambos. A triste prostituta descreve um dos seus casos e mostra o quão infeliz é aquela sua vida de carne:
"ele começou a enfiar com muita força, me lembro que tive que morder a língua pra não chorar... estava puxando meu cabelo e aí ele enfiou o pênis na minha boca."
Uma descrição nada agradável de uma noite de sexo nos filmes de romance. Nada convencional!

Ben paga por uma noite com a prostituta, ele em seu estado mórbido graças a bebida se mostra indiferente ao sexo e prefere apenas a companhia da garota.
O interesse é morno à primeira vista mas o desfecho é cada uma das partes dar sua tristeza para o outro, assim que me pareceu a definição cinematográfica do amor, simples e claramente.
Um realismo romântico lúcido que tras um drama não muito convencional nos filmes deste gênero - drama romântico. Nada de baboseiras, nada de beijos melodramáticos e nada de promessas de amor eterno. E vem com a idéia de um final que não é necessariamente feliz mas que também não é infeliz, a priori. Do tipo de final que pouco agrada as senhorinhas de meia-idade mais emotivas. É uma espécie de Romeo e Julieta perdidos que provavelmente deveria ter sido escrito por escritores como Bukowski. Um alcólatra e uma prostituta que sente um 'q' de amor um pelo outro para salvar suas vidas, são atraídos pela tristeza do outro e pelo estado de cada um. Ele não quis mudar ela da sua vida de prostituta e ela não quis mudar em nada o alcoolismo dele. Um feito pro outro em seus "moralismos" abalados.

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