domingo, 13 de dezembro de 2009

Amor canhoto


Espiei pelas frestas da janela seu corpo distante, diferente mas ainda perto
Eu e as lembranças, na ventura de ser cego.
Apego-me as visões que tenho dela
Seu sorriso, sua maneira de mexer com os olhos
Queria poder me amarrar em seus cílios, que caprichosos resistiam ao vento que ouriçava seus cabelos

E que me alçava aos vôos mais sem nuvens e belos
que um dia me permiti ter...
eu queria seu bem-me-quer embrulhado
escondido em minhas ilusões propositais e mais seguras
-Onde está meu barco naufragado?

Minhas velas não vêem mais vento, estou ao mar, em sua saliva, no bel prazer de seus caprichos
Esse sentimento talhado que já está de pé
sem notar que as cortinas que escondem-me
permanecem sem fé

-Se eu morrer de amor, vou para o céu?

Não tenho direito de habitar com os deuses de flexa, pois não há crucifixo para me proteger dos desencontros com você
Você, meu devaneio particular, minha constante variável
-Água benta, por favor!

Construo minha catedral sem fervor, medindo um louvor que não preciso
Perdido em promessas questionáveis
desencontrado de seus afagos adoraveis
-Viva a realidade!

Desconheço-me
Nem pareço aquele que fez altar nos pés da liberdade
Perfumado e com um largo sorriso, com a esperança de um novato
desavisado acreditei em seu abraço
baixei a guarda...

Olhe-se e me diga, ganhou alguma coisa?
Com esse seu jeito fulgaz de prender e sufocar um amor provavel
-Tem espelho em casa?
não esqueça que o tempo passa, passa, passou!

Quem me dera ter espelhos que refletissem quem se é realmente
Nosso tempo me seria bem mais simples
se tivessemos nascido irmãos.
Pegue e guarde seus defeitos, todos eles para mim...
Tenho uma gaveta empoirada para guardá-los
aquela em que você pôs sua sinceridade
enfeitada do jeito que você adora
bordada com cetim e fitas rosas

Um choro a mais não me tornará um covarde
-Homem não chora?
-Quem consegue levar a vida sem sais nos olhos?
Não seria eu, o que ficou de mim depois de você
depois de lhe ver,depois de lhe ter Madalena

E fazer cenas...
De nosso folhetim barato, com jeito de quarta-feira de cinzas.
Cinza, foi o que ficou de nosso carnaval psicodélico

depois das tentações da via crucis encenada
Maizena, jazz band e mascáras
logo ali no chão de nossa sala
com tapetes e paredes maltratadas
salpicadas com as sujeiras de nossa vida

-Você que nunca me sujou com seu amor!
- Será que eu nunca fui tão bom para você?
Será que nunca fui tão mau como você gostaria que eu fosse? (como você merecia que eu fosse)
-Errei...
Por seu o certo em um amor canhoto.

Tarcito Lear e Luka Bittencourt